quarta-feira, 21 de novembro de 2012

A Rainha Desventurada - Maria Antonieta

Uma biografia da Rainha da França Maria Antonieta escrita por mim para a disciplina de Produção em Jornalismo Online.

A imagem de uma assustada garota de quatorze anos sendo usada como peão em um jogo político, diante de uma certidão de casamento com um total estranho, longe da vida de confortos que sempre conheceu difere muito da imagem de uma rainha impiedosa, vivendo da luxúria e dos gastos, afirmando friamente que se o povo não tem pão que comam brioches. De fato, uma das principais características a respeito de Maria Antonieta é sua dualidade. Principalmente entre quem ela foi e quem se acredita que ela foi.

Nascida em 1755 arquiduquesa austríaca Maria Antônia Josefa Joana, para anos mais tarde se tornar a Rainha Consorte de França e Navarra, Maria Antonieta de Habsburgo-Lorena. Sendo a décima-quinta filha, de dezessete, da Imperatriz Maria Tereza da Áustria, Antoine, como era conhecida na infância, foi criada com as mordomias que a realeza permitia. Apesar das virtudes necessárias à corte teve sua educação negligenciada por uma governanta que fazia suas vontades, causando uma dificuldade de aprendizado que a impediu de ler ou escrever bem até os treze anos. Para cumprir as necessidades do império, Antoine teve seu casamento arranjado muito cedo, como suas irmãs, mas teve menos sorte do que elas. A França e a Áustria na época eram arqui-rivais centenárias, e para consolidar uma aliança de paz, Maria Tereza conseguiu um casamento que colocaria uma de suas filhas dentro da corte, para defender seus interesses e os do império. O que não foi levado em conta nesta transação - com dote pago em dinheiro e ouro e contrato assinado por ambas as partes – foi o ódio que o povo francês sentia dos Austríacos, incluindo o futuro noivo. Luis Augusto, delfim da França, e próximo na linha de sucessão ao trono de Luis XV, era ainda um adolescente, que não conhecia a noiva e como ela não tinha voz ativa para impedir o casamento que se esperava, beneficiaria ambos os reinos.


Após a cerimônia de entrega da noiva em cortejo, onde ela deixava para trás sua identidade se tornando francesa e passando a usar o nome de Maria Antonieta, Delfina da França, era de se esperar que as coisas correriam bem. A despeito dos casamentos bem sucedidos das irmãs, Maria Antonieta teve que enfrentar além do desprezo dos súditos e da corte – que a chamavam pelas costas de Autrichienne, termo que pode significar tanto “a austríaca’ quanto ‘aquela cadela’ – teve que enfrentar até mesmo a aversão do marido, que só foi capaz de consumar o casamento após sete anos de convivência. Apesar da vergonha de manter uma relação de fachada, com um rapaz que a desprezava tanto ou mais que a população, ela tentou atender os interesses de sua mãe para unir as duas nações. Também sem sucesso.

Encontrando apenas as críticas duras de todos ao seu redor Maria Antonieta entregou-se às efêmeras alegrias de sua vida, as extravagâncias com a moda, comida e jogos de azar. Parte de sua fama de perdulária e fútil vem daí, da fase entre os quatorze aos vinte anos em que ela não tendo muitas preocupações e encontrando pouca satisfação no casamento ou nas amizades se entregara à gastar dinheiro e jogar. Uma coisa que pode ser dita a respeito dela é que não foi falsa, não fingia gostar das pessoas da corte e não escondia sua afeição por quem lhe agradava, e esses favorecimentos causavam ciúmes e inveja.

Mas o jogo começa a mudar para Antoine quando o Rei Luis XV padece de varíola e ela e o marido se vêem como Rei e Rainha da França de uma hora para outra. Maria Antonieta, então com dezoito anos sabia muito pouco sobre como governar, e seu marido ainda menos. Versalhes era um lugar perigoso para se estar sem conhecer seus jogos de poder. As suas tentativas de ajudar o marido no governo só fizeram aumentar a antipatia do povo por ela, e cada vez mais rumores e fofocas denegriam sua imagem, e folhetos contavam histórias absurdas, com uma imagem de mulher que nada tinha a ver com a personagem real, e que infelizmente perduram até hoje.

A imagem hiper-real que se formou destes rumores ofuscou toda e qualquer caractere da personalidade de Maria Antonieta que pudesse ter ganho a simpatia do povo em geral. Mesmo após suas mudanças de estilo de vida, se vestindo com simplicidade e vivendo no Petit Trianon (um palácio anexo) longe da futilidade do Palácio de Versalhes e da corte, após ter seus quatro filhos sendo uma boa mãe e viver como abstêmia, parando de jogar, e usando boa parte de seu dinheiro para causas sociais a imagem perdurou. Culminando na célebre frase atribuída a ela, mandando os pobres comerem brioches em uma das maiores épocas de fome que o país vivia, algo que Maria Antonieta jamais diria. Claro que ela ainda gastava fortunas com caprichos, e apesar de os rumores serem muito piores é comprovado que teve um amante, o Conde Sueco Hans Fersen, mas muito longe da Messalina depravada que tentaram criar.

Quando a insatisfação da massa com as condições sociais culminou nas revoltas que causaram a Revolução Francesa, Maria Antonieta foi um dos inocentes a pagar com a vida pelo estilo de vida abusivo de muitos, durante muitos anos. Após ser presa, e ver seu marido ser guilhotinado, ser separada de seu filho de apenas oito anos e de um julgamento absurdo, onde foi insultada e sofreu as acusações falsas de um veredicto já decidido pela pena de morte ela caminhou até o seu fim com a dignidade da rainha que se tornou. Usando um vestido grosseiro branco para que ela fosse impedida de carregar o luto por seu marido, com o cabelo cortado e as mãos amarradas às costas, Maria Antonieta, mesmo enfraquecida pelo longo período de sofrimento e reclusão caminhou com passos firmes até o cadafalso. Ao pisar acidentalmente no pé do carrasco, desculpou-se: “Perdoe-me senhor. Eu não fiz de propósito.” Ao meio-dia do dia 16 de outubro de 1793 a lâmina da guilhotina caiu sobre seu pescoço. Acabava a monarquia na França aos gritos dos rebeldes de “Viva a República!”.

Das muitas representações da rainha na cultura popular, sendo na música, literatura e cinema prevalece a imagem frívola da menina que vivia pelo prazer das futilidades e não dava a mínima para o povo. Mas apesar de seus inúmeros defeitos que foram parte fundamental de seu infortúnio Maria Antonieta se saiu uma governante melhor do que o próprio marido, uma mãe dedicada e uma embaixatriz defendendo os interesses de seu império no exterior, além de ícone da moda. Comparada a imagem lasciva da esposa estrangeira cruel e manipuladora, a sua verdadeira essência tornou-se mera sombra, um bode-expiatório do fracasso da monarquia, quando se procurava alguém a quem culpar.

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