Uma estreia mundial que já causou polêmica antes de sua exibição, Beasts of no Nation é um filme que ultrapassa as barreiras das plataformas. Primeira produção cinematográfica original da Netflix, o longa-metragem foi liberado simultaneamente no site e exibido em 27 salas de cinema nos Estados Unidos. O número é pequeno, porém significativo: é o número mínimo de salas exigido para que um filme concorra ao Oscar, ao qual o lançamento já é um forte candidato depois de impressionar os festivais de Toronto e Veneza, onde já foi premiado. Beasts of No Nation (2015) é a visão de um menino sobre a guerra que se desenrola em seu país e que muda a sua vida. Agu, vivido pelo jovem Abraham Attah, vive em um país africano não identificado, onde rumores de uma guerra civil preocupam os moradores. No embate das milícias armadas, o jovem foge sozinho e se perde em uma floresta, onde é "resgatado" pelo Comandante, vivido por um quase irreconhecível Idris Elba. O menino se junta a um grupo paramilitar formado por crianças, onde é forçado a se tornar um soldado. Agu se divide entre a realidade brutal e os ensinamentos da mãe religiosa, e tenta abandonar sua condição infantil e sonhadora, para se tornar a máquina de combate que precisa ser para sobreviver.
Rude e inspirador - Inspirado na obra do escritor Uzodinma Iweala, o filme foi adaptado por Cary Joji Fukunaga. Trabalhando no roteiro e na direção, Fukunaga mostrou a mesma qualidade de suas obras anteriores, True Detective (HBO) e Jane Eyre (2011), além de provar que pode se movimentar por televisão, cinema, e streaming sem perder sua essência. Os monólogos, diálogos de forte conteúdo existencialista e imagens ao mesmo tempo rudes e inspiradoras que marcam suas obras, estão presentes.
A obra além de ser atual, expondo a situação das crianças-soldados, tem a visão inocente do menino que é pego neste emaranhado de problemas adultos. No entanto, a brutalidade e a violência não são gratuitos, mesmo as extensas cenas de batalha fazem parte do contexto. A selvageria é amenizada por uma sensação etérea, com bordas esbranquiçadas que lembram uma memória. Esse sentimento é aumentado pela narração de Agu, que demonstra as mais complexas emoções das maneiras mais compreensíveis.
As cenas foram rodadas em Gana, e a fotografia dá o tom artístico que sempre acompanha o trabalho de Cary Fukunaga. O ator estreante que dá vida ao personagem principal, começa de forma impressionante, e complementa o trabalho fenomenal de Idris Elba, um camaleão das telas e que perde totalmente seu carregado sotaque britânico no filme.
Distribuidoras como Cinemark e AMC fizeram um boicote ao filme, que acusam de prejudicar o cinema tradicional. No entanto, vão ter de dar o braço a torcer, uma vez que será impossível renegar uma obra desta qualidade, que sem dúvida é dos maiores filmes de 2015.
Confira o trailer legendado:
Essa resenha foi escrita para o jornal Gazeta do Sul e publicada em 28 de novembro de 2015.
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