Ernest
Hemingway foi um escritor americano, nascido no fim do século XIX, que
fez parte da chamada “geração perdida”, ao lado de nomes como
Fitzgerald, Pound e T.S. Elliot. Autor de obras célebres como “O sol
também se levanta” e “Por quem os sinos dobram”, Hemingway ficou
conhecido por ter um estilo próprio de escrita, marcadamente conciso e
seco.
O
americano não desperdiçava palavras, e não floreava suas cenas
desnecessariamente. Suas páginas são simples, sem adornos, e Hemingway
não tenta tirar poesia de cada situação, exageradamente, forçadamente, o
que acaba por permitir que a poesia surja naturalmente, de palavras
cotidianas combinadas com uma narrativa eficiente e bem-cuidada.
Assim
chegamos ao ponto principal: os contos de Hemingway. De modo geral,
considero que são o que ele de melhor produziu. Digo isso precisamente
por conta dessa concisão que caracterizava sua escrita. Os leitores da
nossa revista provavelmente viram no texto acerca do conto, escrito pelo
Gustavo, as características de concisão e tensão enfatizadas por Edgar
Allan Poe. Esse é ponto assentado: o conto não desperdiça palavras e
atinge seu efeito pretendido através da tensão advinda das poucas
palavras.
Minha
intenção aqui é a de mostrar por que considero Hemingway um ótimo
contista, e é exatamente pelo que eu disse acima: sua concisão, sua
capacidade de falar muito com poucas palavras e nos atingir em cheio.
Por isso, não tive dúvida sobre que conto trazer. Bastante famoso, ele
continua tão genial a cada vez que o leio:
Vende-se: sapatos de bebê, sem uso.
Pronto. É isso. Não acho que alguém vá perguntar, mas, já adiantando: não tem mais nada, nem precisa. São seis palavras que nos contam toda uma história de tragédia. Segundo a “lenda”, propuseram a Hemingway escrever um conto que não ultrapassasse 6 palavras. E ele assim o fez. Você imagina tudo que veio antes, o casal, a gravidez da mulher – quem sabe aquela tão esperada, desejada? -, a possível preocupação com o dinheiro – no fim eles vendem o sapato, não apenas jogam fora -, a felicidade de pensar na criança, todos os meses de gestação, o nascimento e, por fim, a morte. O bebê não teve nem a chance de usar o enxoval. E o peso da tragédia familiar é atirado em nós sem um mínimo de preparo.
Óbvio que,
pelas características do conto, é possível imaginar a história de modo
diferente, com exceção do final, que me parece bastante claro. Mas acho
que todos vão concordar: é preciso uma capacidade imensa de concisão, e
uma grande sensibilidade artística para escrever o que Hemingway
escreveu. O conto mais curto que já li, e também um dos melhores.
0 comentários:
Postar um comentário