de Sérgio Faraco (Editora L&PM)
Em 1963 o escritor gaúcho Sérgio Faraco era membro do Partido Comunista Brasileiro, e foi convidado a viajar para a União Soviética para fazer um curso. Na época, o sonho do jovem era conhecer o berço do comunismo aplicado na atual Rússia, e aproveitou a oportunidade. No entanto, no momento da partida ele não fazia ideia do tipo de complicações que viriam por conta desta viagem. Uma parte de suas desventuras ele relata em Lágrimas na Chuva.
O livro inicia contextualizando o país politicamente, e como o clima anticomunista crescia rapidamente. Para o jovem Sérgio, sua colocação não havia lhe causado problemas. A primeira complicação real foi alguns meses após sua chegada na URSS: no Brasil, em outro continente eclodia o Golpe Militar, dando início a uma ditadura que não permitiria que ele e seus colegas de viagem retornassem ao país.
Em contrapartida, sua própria experiência na União Soviética acabou se provando muito diferente do que ele imaginava. Faraco achava que o curso que realizaria iria complementar seus estudos e leituras do Brasil, mas na verdade a viagem servia apenas para agradar membros eminentes do Partido, sem realmente ensinar nada. Os mesmos assuntos eram debatidos exaustivamente, e não era permitido aos alunos aprender além do programa.
Ao notar as pequenas hipocrisias do regime, o brasileiro natural de Alegrete foi ficando cada vez mais desmotivado e insatisfeito com sua situação, piorada pelo fato de que se retornasse à sua terra natal seria preso imediatamente. Para fugir desta perspectiva sombria, ele tentou manter sua situação na URSS, que foi ficando mais e mais insustentável. Até que sua insubordinação com líderes locais e seu constante questionamento dos métodos ultraesquerdistas do Partido o levou a uma internação forçada.
O jovem Sérgio Faraco foi internado numa instituição, junto com outros questionadores para passar por um período de "reeducação". Sem apresentar nenhum problema de saúde física ou mental, ele passou seus dias sob alta medicação e entrando em conflito com alguns dos outros 'pacientes', com quem se comunicava com dificuldade graças ao seu russo imperfeito.
O título do livro faz referência ao famoso monólogo do personagem Roy Batty, androide vivido pelo ator Rutger Hauer em Blade Runner. Na cena, ele conta que viu destruição sem tamanho por todo o universo, e que esses "momentos se perderão no tempo como lágrimas na chuva". Ao se inspirar por essa sentença, Faraco fez referência à sua experiência única, que apenas ele viveu e que jamais será capaz de transmitir com fidelidade.
Este livro me foi recomendado por um grande amigo, cuja opinião respeito, e assim que ele me contou a sinopse tive muito interesse em ler, e não me arrependi. Além da escrita fluida e agradável de Sérgio Faraco, sua narrativa autobiográfica é emocionante, educativa e também revolta o leitor que deseja voltar no passado para auxiliar um personagem que sofre como vítima de circunstâncias.
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