São contos, é literatura, a vida como ela é, mas não estamos falando de Nelson Rodrigues. Quem percorre este caminho literário agora é a paulistana Ana Esterque. Exploradora do mundo, ela usou de sua vivência e observação para escrever A Fila, publicado pela Editora Chiado. O livro é um conjunto de contos escritos em três partes do mundo: Zurique, Santiago de Compostela e São Paulo.
Inspirada por fragmentos da realidade e do imaginário, Ana escreve como quem observa minuciosamente o mundo ao seu redor. A obra, composta por 10 narrativas, é permeada por temas polêmicos – como incesto e violência contra a mulher. Além disso, as histórias levam o leitor a uma reflexão sobre o vazio e a delicadeza da alma.
A fila é o primeiro conto – e o que intitula o livro. Escrito em Zurique, o texto faz uma dura crítica ao comunismo, narrado do ponto de vista de uma criança. Em um ambiente ficcional, a personagem Natasha sente o peso da solidão, do abandono e do descaso de pessoas endurecidas pela crueldade da escassez. Leia-se:
“Os portões de ferro foram abertos. Um por um a menina os escutou. Depois foram frases soltas e palavrões em gritos; esbarrões, pontapés, empurrões. O povo já não respeitava a fila. Comprimiam-se todos defronte às grades abertas, agitando os documentos para o alto, pois urgia realizar o cadastro com os homens fardados.”
A vida de Ana Esterque é uma frequente busca por autodescoberta. Desde quando estudou jornalismo, ainda em São Paulo, até em Santiago de Compostela, nas aulas de Filosofia. Foi a partir desse momento que ela passou a se dedicar com seriedade à ficção. Atitude árdua, pois segundo ela: “Escrever também é se suportar em meio à solidão. Isso, às vezes, dói.”
Consciente de que o fracasso faz parte da vida, a autora encontrou coragem nos tropeços, nas portas fechadas e nos “nãos” para compor uma obra que transpõe a realidade, com um misto entre ficção e a veracidade. A Fila, primeiro livro da escritora Ana Esterque, chega às livrarias do Brasil e de Portugal em agosto, com a promessa de instigar e provocar o leitor a cada página.
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