A Amazon está aportando no Brasil. A maior varejista eletrônica do
mundo deve iniciar sua operação por aqui no fim deste ano ou no início
de 2012. Para isso, já negocia com editoras brasileiras
a conversão, em grande escala, de títulos nacionais em e-books, além de
vender por aqui seu leitor de livros digitais, o Kindle. "Estamos em
contato com o emissário da Amazon. E ele está conversando com várias
editoras locais", revela Sérgio Machado, presidente da Record, uma das
maiores empresas do setor editorial no país. Mas a Amazon não vive só
de livros. Ao contrário. No ano passado, suas vendas nesse segmento
(reforçadas por discos, consoles de games, software e downloads) foram
responsáveis por menos da metade do faturamento de 34 bilhões de
dólares da empresa – que atualmente vende itens tão diversos quanto
acessórios automotivos e ervas para gatos.
A companhia americana confirma que tem "planos para o Brasil", mas
guarda segredo sobre eles. Há três meses, o interlocutor com as
editoras locais é o peruano Pedro Huerta, que trabalhou na prestigiosa
editora americana Randon House. Ele conduz negociações a partir de Nova
York e Londres. É evidente, porém, que a Amazon deve chegar ao país
para empreender uma grande, ou melhor, gigantesca operação de
e-commerce, que deve mexer com a vida de eventuais parceiros,
concorrentes e consumidores. Faz todo o sentido. O setor de e-commerce
no Brasil passa por uma fase positiva. Neste ano, deve faturar ao menos
20 bilhões de reais, segundo previsão da empresa de monitoramento de
comércio eletrônico E-bit. É um crescimento de 35% em relação a 2010.
"A Amazon é uma empresa muito grande. Por isso, é improvável que
venha para o Brasil só para vender livros", diz Carlos Affonso Souza,
vice-coordenador do Centro de Tecnologia e Sociedade da Fundação
Getúlio Vargas (FGV). "O fator mais positivo é que sua chegada
estimulará o setor de comércio eletrônico e funcionará como uma espécie
de chancela, um reconhecimento de que o e-commerce brasileiro é maduro
e promissor." Souza lembra que o interesse da Amazon no Brasil é
antigo. Em 2005, a empresa tentou na Justiça tomar controle do domínio
amazon.com.br, que pertence a uma empresa brasileira de soluções de TI
chamada Amazon Corporation. Não obteve, contudo, um veredicto a seu
favor.
O retrospecto de atuação da Amazon em outros mercados fornece mais
um indício de que a empresa deve chegar ao Brasil para vender de tudo
um pouco. A companhia nasceu em 1995, nos Estados Unidos. De lá, e
desde então, expandiu sua atuação a outros países. Grã-Bretanha e
Alemanha, por exemplo, ganharam operações locais já em 1998. França e
China, em 2000. Canadá, Japão e Itália também estão na lista de nações
que contam com escritórios locais da companhia.
Nesses mercados, a empresa aliou a oferta de um vasto número de
livros em idioma local à venda do mix de produtos que a sustenta:
computadores, material de escritório, casa e jardim, produtos de saúde
e beleza, brinquedos, roupas e bugigangas, além da prestação de
serviços, como o armazenamento de dados de grandes empresas. Nem todos
os itens, contudo, saem de seus estoques. A estratégia tem sido
recorrer a fornecedores locais, que usam a Amazon como uma vitrine, a
partir de dois acordos. Em um deles, o parceiro usa a rede de
distribuição da gigante do varejo para fazer seu produto chegar às mãos
do consumidor. No outro, ele mesmo faz a entrega. Nos dois casos,
recebe uma comissão da Amazon.
A logística de distribuição de produtos no Brasil é o "x" da
questão acerca da entrada da companhia no país. Na China, por exemplo,
a empresa americana iniciou suas operações construíndo uma rede de
distribuição própria. Quatro anos depois, porém adquiriu por 75 milhões
de dólares a chinesa Joyo, especializada no assunto. "A Amazon deve
erguer sua própria logística no Brasil, mas não podemos descartar a
possibilidade de ela adquirir um grande player nacional, que já tenha o
seu modelo montado", diz Alexandre Umberti, diretor de marketing e
produtos da E-bit. Umberti aposta ainda que o consumidor sera o
principal beneficiado, uma vez que a empresa americana colocará em solo
brasileiro seu know-how em áreas como atendimento ao cliente.
O certo é que o dia em que a companhia americana colocar os pés no
país algo vai mudar na vida dos atuais protagonistas do e-commerce
local. Um deles é a B2W, que controla os serviços Submarino,
Americanas.com, Ingresso.com e Shoptime, detentor de um faturamento de
4 bilhões de reais, em números de 2010. Procurada pela reportagem de
VEJA para comentar a aproximação da Amazon do mercado brasileiro, o
grupo preferiu manter-se em silêncio. Posição mais clara em relação ao
seu negócio tem a Câmara Brasileira do Livro, entidade que representa
interesses de editoras, livrarias e distribuidores. "A chegada da
Amazon no país indicará um caminho inevitável e sem volta: ela terá de
se expandir para outros negócios", diz Karine Pansa, presidente da CBL.
(Com reportagem de Paula Reverbel)
Via: Veja
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