de Joseph Mitchell (Editora Cia das Letras)
Cada cidade possui o seu exemplar local de lunático ou boêmio, que passa por todos os lugares, aceito por alguns, rejeitado por muitos, mas que é conhecido por todo mundo. Uma cidade como Nova York é grande demais, e por isso possui vários espécimes de pessoas estranhas, que vagam aqui e ali em busca de auxílio ou atenção. Joseph Mitchell buscava por uma pessoa assim para fazer um perfil para revista The New Yorker, onde trabalhava, e escolheu para este propósito o culto e excêntrico Joe Gould. Dizia-se nas ruas que Gould era um poeta, que andava escrevendo o maior livro de que já se teve notícias, e Mitchel costumava vê-lo em suas andanças pelas ruas e cafés do Greenwich Village.
Em O Segredo de Joe Gould (Editora Companhia das Letras, 157 páginas) dois textos de Joseph Mitchell estão reunidos, ambos sobre Joe Gould, ambos publicados na The New Yorker com um intervalo de vinte anos. O primeiro texto, O Professor Gaivota, Gould é descrito no perfil, como um nascido ianque de Norwood, Massachusetts, que se considerava inapto para qualquer atividade durante a infância, e por isso em sua juventude tentou achar uma obra a fazer que o satisfizesse. Tentou viajar às reservas indígenas para estudar eugenia, mas quando o dinheiro acabou teve de voltar pra casa. Os pais queriam que ele tivesse um emprego sério e respeitável na cidade, mas ele preferiu largar tudo e se mudar para Nova York, onde tentaria ganhar a vida.
Na cidade, Gould tentou alguns empregou, até ter a grande ideia de sua vida: Uma história oral de nossa época. No escrito que segundo ele, chega a milhões de palavras ele coloca as conversas diárias que ouve nas ruas, docas, bares e albergues, para que a história seja representada pelas próprias pessoas e o que elas dizem e pensam.
O retrato que Mitchell faz de Joe Gould é de uma pessoa que conhece muito bem seu entrevistado, como um amigo próximo ou alguém da família sobre o qual tivesse que escrever. Tudo flui muito naturalmente em sua narrativa, e as idiossincrasias de Gould parecem até mesmo familiares. O tom de graça e humor na história são confrontados com os momentos de profunda tristeza. Joe Gould mora na rua, passa fome, fuma as guimbas de cigarro que recolhe do cão, usa roupas dois tamanhos maiores que ganhou de seus benfeitores, e as usa até ganhar novas para então jogá-las fora. As pessoas se dividem em reações adversas em relação a ele, algumas o fitam com curiosidade, outras com receio, poucas com admiração, a maioria com desprezo.
Cada cidade possui o seu exemplar local de lunático ou boêmio, que passa por todos os lugares, aceito por alguns, rejeitado por muitos, mas que é conhecido por todo mundo. Uma cidade como Nova York é grande demais, e por isso possui vários espécimes de pessoas estranhas, que vagam aqui e ali em busca de auxílio ou atenção. Joseph Mitchell buscava por uma pessoa assim para fazer um perfil para revista The New Yorker, onde trabalhava, e escolheu para este propósito o culto e excêntrico Joe Gould. Dizia-se nas ruas que Gould era um poeta, que andava escrevendo o maior livro de que já se teve notícias, e Mitchel costumava vê-lo em suas andanças pelas ruas e cafés do Greenwich Village.
Em O Segredo de Joe Gould (Editora Companhia das Letras, 157 páginas) dois textos de Joseph Mitchell estão reunidos, ambos sobre Joe Gould, ambos publicados na The New Yorker com um intervalo de vinte anos. O primeiro texto, O Professor Gaivota, Gould é descrito no perfil, como um nascido ianque de Norwood, Massachusetts, que se considerava inapto para qualquer atividade durante a infância, e por isso em sua juventude tentou achar uma obra a fazer que o satisfizesse. Tentou viajar às reservas indígenas para estudar eugenia, mas quando o dinheiro acabou teve de voltar pra casa. Os pais queriam que ele tivesse um emprego sério e respeitável na cidade, mas ele preferiu largar tudo e se mudar para Nova York, onde tentaria ganhar a vida.
Na cidade, Gould tentou alguns empregou, até ter a grande ideia de sua vida: Uma história oral de nossa época. No escrito que segundo ele, chega a milhões de palavras ele coloca as conversas diárias que ouve nas ruas, docas, bares e albergues, para que a história seja representada pelas próprias pessoas e o que elas dizem e pensam.
O retrato que Mitchell faz de Joe Gould é de uma pessoa que conhece muito bem seu entrevistado, como um amigo próximo ou alguém da família sobre o qual tivesse que escrever. Tudo flui muito naturalmente em sua narrativa, e as idiossincrasias de Gould parecem até mesmo familiares. O tom de graça e humor na história são confrontados com os momentos de profunda tristeza. Joe Gould mora na rua, passa fome, fuma as guimbas de cigarro que recolhe do cão, usa roupas dois tamanhos maiores que ganhou de seus benfeitores, e as usa até ganhar novas para então jogá-las fora. As pessoas se dividem em reações adversas em relação a ele, algumas o fitam com curiosidade, outras com receio, poucas com admiração, a maioria com desprezo.
Esse é o moço Gould |
Em O Segredo de Joe Gould, o texto é mais sério e sombrio, a comicidade ainda está presente, mas mais lados da personalidade de Gould são mostrados. Ele, tido por muitos como um vagabundo, definia a si mesmo como um “ambissinistro, canhoto das duas mãos”, sua formação em Harvard provava o contrário, assim como a ajuda que recebia de vários amigos na cidade, artistas, pintores, poetas que acreditavam em seu talento e o sustentavam fazendo pequenas contribuições ao fundo de Joe Gould. Mitchell também se tornou um destes colaboradores, e só no segundo texto deixa esta condição visível. Podemos entender a dimensão do vínculo entre os dois só então.
Gould é uma figura singular, e apesar disto não é impossível relacioná-lo com pessoas que encontramos por aí. Gente sem paragem, com um espírito grande demais pra ficar preso dentro de uma casa ou um emprego formal. O bêbado, o louco, o morador de rua, o rebelde, o boêmio, o apreciador das artes, todos são de certa forma um pouco de Gould. “Sou Joe Gould, o poeta; sou Joe Gould o historiador; sou Joe Gould, o selvagem dançarino Chippewa; e sou Joe Gould, a maior autoridade mundial na língua as gaivotas.” O homenzinho sujo e mais velho do que sua própria idade queria ser imortalizado na posterioridade por sua obra sem fim. Joseph Mitchel revelou seu segredo apenas depois de sua morte, e ao fazê-lo deixou os dois marcados nos anais imorríveis do jornalismo literário sem precedentes, sem comparações e que supera todas as tentativas de escrever matérias sobre pessoas.
Apenas Joseph poderia ter escrito esses perfis, e apenas sobre um personagem como Gould. Que ele o faz com maestria é um mero detalhe, as páginas e linhas não mentem, ficam marcados durante e após a leitura. Encerrar o livro é sentimento de vazio que não tem explicação. Talvez pela qualidade superior da obra, talvez pelo medo que temos do esquecimento que não vai encontrar estes dois personagens, ou talvez por que Joe, este vagabundo, que não encontrou um chão fixo pra viver tenha vivido o sonho de todos nós: foi quem era realmente, e viveu a vida que quis, da maneira que escolheu buscando a felicidade que sabia viria com a sua obra realizada.
0 comentários:
Postar um comentário