sábado, 20 de agosto de 2016

Poema Limpo


de Ryan Mainardi (Editora Schoba)

O escritor sobradinhense Ryan Mainardi, de 29 anos, escreve sobre as angústias do ser em ‘Poema Limpo’ (Editora Schoba, 64 páginas), onde ele de certa forma responde ao Poema Sujo de Ferreira Gullar, a quem dedica o livro. 

Assim como eu seus livros posteriores, Palimpsesto (romance) e Metâmeros (contos), o autor conta de forma autobiográfica sobre sua rotina, trancado em um apartamento na cidade de Porto Alegre, cercado pela fumaça dos cigarros e as garrafas vazias de vinho, atormentado pelas idas e vindas dos amores.


Neste local, ele observa pela janela a decadência da cidade, refletindo sobre uma existência artística brutal. E brutais são seus poemas, as palavras ferem, e é impossível não se identificar, nem sair magoado após algumas páginas. A verdade machuca, e a realidade é o que todos nós mais tememos; a compreensão da insignificância dos seres humanos frente a grandiosidade da vida e do universo. 


Apesar da pouca idade, o autor externa um tipo de amargura de quem viver – e sofreu- muito. Assim, o Poema Limpo, acaba sendo um forma de purificação para um mundo feio e sujo, para uma existência manchada pela dúvida. 
Confira um trecho:

"Nesta vida nada se perde nem se ganha     todas as batalhas são vãse mesmo sabendo dissohá dias    (como esse)em que tudo parece perda em cima de perdae sinto que nem tenho mais nada a perder     que já levaram tudo     que já me fui de mim     que esta escrita revela só o que foi                                                  o que fui
                              no passado                              porque o que é                              não háas perdas levaram                              lavaram                              mataram.


Todo ser humano nasce fiel a si mesmomas depois a vida vai corrompendo esta fidelidadecom golpes fortes e carícias           promessas           seduções           medoso mundo vai se infiltrando em nós                        até que nós não existamos mais                        até que o nosso eu morra                                 e o reflexo vazio que vemos no                                      [espelho do banheiro]                                      e em coquetéis lotados                                      assuma o seu lugar                                      como parte do mundo                                      dono de um corpo                                      (de um lugar na sociedade)                             casca oca                                      vazia."



É impossível passar pelas páginas deste poema e não se sentir tocado de diversas formas, pelo medo, pela tristeza, pelo riso, pelo entendimento, pela depressão, pela solidão. Enfim, as páginas são retratos de uma miríade de sentimentos humanos, tão comuns a todos nós, mas exacerbados pelo contar de sua própria história. Uma obra bela, porém cheia de angústia e medo, assim como a vida. 

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