de Ryan Mainardi (Editora Schoba)
O escritor sobradinhense Ryan Mainardi, de 29 anos, escreve sobre as angústias do ser em ‘Poema Limpo’ (Editora Schoba, 64 páginas), onde ele de certa forma responde ao Poema Sujo de Ferreira Gullar, a quem dedica o livro.
Assim como eu seus livros posteriores, Palimpsesto (romance) e Metâmeros (contos), o autor conta de forma autobiográfica sobre sua rotina, trancado em um apartamento na cidade de Porto Alegre, cercado pela fumaça dos cigarros e as garrafas vazias de vinho, atormentado pelas idas e vindas dos amores.
Neste local, ele observa pela janela a decadência da cidade, refletindo sobre uma existência artística brutal. E brutais são seus poemas, as palavras ferem, e é impossível não se identificar, nem sair magoado após algumas páginas. A verdade machuca, e a realidade é o que todos nós mais tememos; a compreensão da insignificância dos seres humanos frente a grandiosidade da vida e do universo.
Apesar da pouca idade, o autor externa um tipo de amargura de quem viver – e sofreu- muito. Assim, o Poema Limpo, acaba sendo um forma de purificação para um mundo feio e sujo, para uma existência manchada pela dúvida.
Confira um trecho:
"Nesta vida nada se perde nem se ganha todas as batalhas são vãse mesmo sabendo dissohá dias (como esse)em que tudo parece perda em cima de perdae sinto que nem tenho mais nada a perder que já levaram tudo que já me fui de mim que esta escrita revela só o que foi o que fui
no passado porque o que é não háas perdas levaram lavaram mataram.
Todo ser humano nasce fiel a si mesmomas depois a vida vai corrompendo esta fidelidadecom golpes fortes e carícias promessas seduções medoso mundo vai se infiltrando em nós até que nós não existamos mais até que o nosso eu morra e o reflexo vazio que vemos no [espelho do banheiro] e em coquetéis lotados assuma o seu lugar como parte do mundo dono de um corpo (de um lugar na sociedade) casca oca vazia."
É impossível passar pelas páginas deste poema e não se sentir tocado de diversas formas, pelo medo, pela tristeza, pelo riso, pelo entendimento, pela depressão, pela solidão. Enfim, as páginas são retratos de uma miríade de sentimentos humanos, tão comuns a todos nós, mas exacerbados pelo contar de sua própria história. Uma obra bela, porém cheia de angústia e medo, assim como a vida.
0 comentários:
Postar um comentário