terça-feira, 22 de março de 2016

5 livros de poesia que eu adoro e recomendo


Oi gente, tudo bem por aí? Hoje pensei em fazer um post meio diferente, (depois me contem se gostaram) e mostrar por aqui 5 dos meus livros de poesia favoritos. Ou pelo menos autores que são interessantes e que tem uma obra que vale a pena conhecer. Note que eles são todos de biblioteca, da Universidade onde eu estudava, no caso, e principalmente porque tenho poucos livros de poesia em casa. Com certeza estão na minha lista de livros para investir!

Confira algumas dicas e um poema de cada livro como exemplo: 


poem(a)s, de e.e. cummings (Editora Unicamp, 248 páginas)

Sinopse: Um dos inventores da poesia moderna, E. E. Cummings atua diretamente sobre a palavra - desintegra-a e cria, com suas articulações e desarticulações, uma verdadeira dialética de olho e fôlego, que faz do poema um objeto sensível, quase palpável. Sua poesia constitui uma das mais sérias tentativas de fazer funcionar dinâmica e poeticamente o instrumento verbal, reduzindo a um mínimo a distância entre a experiência e expressão.

may i feel said he 
(i’ll squeal said she 
just once said he) 
it’s fun said she 

(may i touch said he 
how much said she 
a lot said he) 
why not said she 

(let’s go said he 
not too far said she 
what’s too far said he 
where you are said she) 

may i stay said he 
(which way said she 
like this said he 
if you kiss said she 

may i move said he 
is it love said she) 
if you’re willing said he 
(but you’re killing said she 

but it’s life said he 
but your wife said she 
now said he) 
ow said she) 
(tiptop said he 
don’t stop said she 
oh no said he) 
go slow said she 

(cccome?said he 
ummm said she) 
you’re divine!said he 
(you are Mine said she)


posso sentir?... ele disse 
(eu vou gritar ...ela disse 
só uma vez ...ele disse) 
isso é divertido ...ela disse 

posso tocar?... ele disse 
quanto? ...ela disse 
Um monte ...ele disse 
Pq não? ...ela disse 

vamos ? ...ele disse 
não tão longe ...ela disse 
o que é tão longe? ...ele disse 
onde voce está ...ela disse 

posso ficar? ...ele disse 
de que jeito? ...ela disse 
desse jeito ...ele disse 
se voce beijar ...ela disse 

posso me mudar?... ele disse 
isso é amor ...ela disse 
se você está esperando ...ele disse 
mas você está matando ...ela disse 

mas é a vida... ele disse 
mas sua esposa ... ela disse 
agora... ele disse 
Oh... ela disse 

na ponta dos pés... ele disse 
não pare... ela disse 
ah, não... ele disse 
vá devagar... ela disse 

conseguiu?... ele disse 
ummmmm... ela disse 
você é divina ...ele disse 
você é meu ...ela disse 


Poemas de Emily Dickinson (Editora Mercado Aberto, 175 páginas)

Sinopse: Nesta edição Bilíngue você conhece um pouco mais do trabalho da maior poeta e a primeira voz moderna da poesia em língua inglesa. Emily Dickinson (1830-1886) nasceu e morreu em Amherst, EUA, onde durante toda a vida, morou na casa paterna.

Afraid? Of whom am I afraid?
Not Death – for who is He?
The Porter of my Father's Lodge
As much abasheth me.

Of Life? 'Twere odd I fear [a] thing
That comprehendeth me
In one or more existences –
At Deity decree –

Of Resurrection? Is the East
Afraid to trust the Morn
With her fastidious forehead?
As soon impeach my Crown!


Ter Medo? De quem terei?
Não da Morte – quem é ela?
O Porteiro de meu Pai
Igualmente me atropela.

Da Vida? Seria cômico
Temer coisa que me inclui
Em uma ou mais existências –
Conforme Deus estatui.

De ressuscitar? O Oriente
Tem medo do Madrugar
Com sua fronte subtil?
Mais me valera abdicar!


Os Mestres e as Criaturas Novas, de Jim Morrison (Editora Assírio & Alvim)

Sinopse: Poesia fragmentada e dispersa, sobre o comportamento animal e o desejo de poder, sobre quartos de hotel e fantasmas que deambulam pelas cidades. Influenciada por escritores como Jack Kerouac e toda a beat generation, a poesia de Jim Morrison transmite a inquietude de um peregrino numa estrada que vai dar não se sabe bem onde, porque não se sabe bem qual a fé que move esse peregrino, apenas se sabe que, inevitavelmente, ele acaba por regressar à estrada.


I can make the earth stop in
its tracks. I made the
blue cars go away.
I can make myself invisible or small.
I can become gigantic & reach the
farthest things. I can change
the course of nature.
I can place myself anywhere in
space or time.
I can summon the dead.
I can perceive events on other worlds,
in my deepest inner mind,
& in the minds of others.

I can

I am


Posso fazer a terra parar
no seu trilho. Fiz os carros azuis
irem embora.
Posso fazer-me invisível ou pequeno.
Posso tornar-me gigante & atingir as
coisas mais distantes. Eu posso mudar
o curso da natureza.
Posso plantar-me em qualquer lado
em espaço ou tempo.
Posso citar os mortos.
Posso perceber eventos noutros mundos,
na minha mais profunda mente interior,
& nas mentes de outros.

Eu posso

Eu sou.


Do Caos à Ordem, de Ezra Pound (Editora Assírio & Alvim, 56 páginas)

Sinopse: Poeta, tradutor e crítico norte-americano, nasceu em Hailey, Idaho, em 1885 e morreu em Itália em 1972. Comprometeu-se com o fascismo. A sua controversa obra poética influencia Joyce, Yeats e T. S. Eliot, entre outros.

Hugh Selwyn Mauberley (trecho) 

ENVOI (1919)

O, dumb-born book,

Tell her that sang me once that song of Lawes;
Hadst thou but song
As thou hast subjects known,
Then were there cause in thee that should condone
Even my faults that heavy upon me lie
And build her glories their longevity.

Tell her that sheds
Such treasure in the air,
Recking naught else but that her graces give
Life to the moment,
I would bid them live
As roses might, in magic amber laid,
Red overwrought with orange and all made
One substance and one colour
Braving time.

Tell her that goes
With song upon her lips
But sings not out the song, nor knows
The maker of it, some other mouth,
May be as fair as hers,
Might, in new ages, gain her worshippers,
When our two dusts with Waller's shall be laid,
Sittings on siftings in oblivion,
Till change hath broken down
All things save Beauty alone.

ENVOI (1919)

Vai, livro natimudo,

E diz a ela
Que um dia me cantou essa canção de Lawes:
Houvesse em nós
Mais canção, menos temas,
Então se acabariam minhas penas,
Meus defeitos sanados em poemas
Para fazê-la eterna em minha voz
Diz a ela que espalha
Tais tesouros no ar,
Sem querer nada mais além de dar
Vida ao momento,
Que eu lhes ordenaria: vivam,
Quais rosas, no âmbar mágico, a compor,
Rubribordadas de ouro, só
Uma substância e cor
Desafiando o tempo.
Diz a ela que vai
Com a canção nos lábios
Mas não canta a canção e ignora
Quem a fez, que talvez uma outra boca
Tão bela quanto a dela
Em novas eras há de ter aos pés
Os que a adoram agora,
Quando os nossos dois pós
Com o de Waller se deponham, mudos,
No olvido que refina a todos nós,
Até que a mutação apague tudo
Salvo a Beleza, a sós.


Poesia, de T.S. Eliot (Editora Nova Fronteira, 333 páginas)

Sinopse: Nesta edição da poesia de T. S. Eliot, reúnem-se seus poemas mais significativos, vertidos para o português num dos mais ousados e felizes trabalhos de tradução levados a cabo no Brasil, fruto da apaixonada dedicação do poeta Ivan Junqueira ao autor de "A terra desolada", um escritor essencial à compreensão dos dilemas que marcam a nossa época.

The Love Song of J. Alfred Prufrock (trecho)

LET us go then, you and I, 
When the evening is spread out against the sky 
Like a patient etherized upon a table; 
Let us go, through certain half-deserted streets, 
The muttering retreats 
Of restless nights in one-night cheap hotels 
And sawdust restaurants with oyster-shells: 
Streets that follow like a tedious argument 
Of insidious intent 
To lead you to an overwhelming question…. 
Oh, do not ask, “What is it?” 
Let us go and make our visit. 

In the room the women come and go 
Talking of Michelangelo. 
The yellow fog that rubs its back upon the window-panes, 
The yellow smoke that rubs its muzzle on the window-panes 
Licked its tongue into the corners of the evening, 
Lingered upon the pools that stand in drains, 
Let fall upon its back the soot that falls from chimneys, 
Slipped by the terrace, made a sudden leap, 
And seeing that it was a soft October night, 
Curled once about the house, and fell asleep. 

And indeed there will be time 
For the yellow smoke that slides along the street, 
Rubbing its back upon the window panes; 
There will be time, there will be time 
To prepare a face to meet the faces that you meet; 
There will be time to murder and create, 
And time for all the works and days of hands 
That lift and drop a question on your plate; 
Time for you and time for me, 
And time yet for a hundred indecisions, 
And for a hundred visions and revisions, 
Before the taking of a toast and tea. 


A Canção de Amor de J. Alfred Prufrock

Então vem, vamos juntos os dois,
A noite cai e já se estende pelo céu,
Parece um doente adormecido a éter sobre a mesa;
Vem comigo por certas ruas semidesertas
Que são o refúgio de vozes murmuradas
De noites em repouso em hotéis baratos de uma noite
E restaurantes com serradura e conchas de ostra:
Ruas que se prolongam como argumento enfadonho
De insidiosa intenção
Que te arrasta àquela questão inevitável...
Oh, não perguntes “Qual será?”
Vem lá comigo fazer a tal visita.

Passeiam damas na sala para além e para aqui
E falam de Miguel Ângelo Buonarroti
A névoa amarela que esfrega as costas nas vidraças
O fumo amarelo que esfrega o focinho nas vidraças
Passou a língua dentro dos recantos da noite,
Demorou-se nos charcos que ficam na sarjeta,
Deixou cair nas costas a fuligem solta das chaminés,
Deslizou pelo terraço, de repente deu um salto,
E, ao ver serena aquela noite de Outubro,
Deu uma volta à casa, enroscou-se e dormiu.

Haverá por certo um tempo
Para o fumo amarelo que desliza pela rua
E esfrega as costas nas vidraças;
Haverá um tempo, tempo
De compor um rosto para olhares os rostos que te olharem;
Tempo de matar, tempo de criar,
E tempo para todos os trabalhos e os dias, de mãos
Que se erguem e te deixam cair no prato uma pergunta;
Tempo para ti e tempo para mim,
E tempo ainda para cem indecisões
E outras tantas visões e revisões
Antes de tomar o chá e a torrada.

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