quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

"As Invernas" transporta o leitor à Galícia rural dos anos 1950


Duas irmãs: Dolores e Saladina. Em nada se parecem. Uma linda e graciosa, outra feia e desdentada, vivendo uma relação fraternal em que o amor e o conflito caminham juntos. Unidas por um passado em comum e um segredo obscuro que carregam consigo, as irmãs, apelidadas de “as Invernas”, retornam à sua aldeia de origem, Terra Chã, após terem passado anos em exílio. Seu falecido avô, Dom Reinaldo, temendo a perseguição das forças nacionalistas com o início da Guerra Civil Espanhola, havia mandado as meninas fugirem, fazendo com que elas acabassem indo parar na Inglaterra como refugiadas ainda pequenas, fato que traçou um novo e inesperado rumo na vida das duas. 

É partindo dessa trama inicial que se desenvolve a narrativa de “As Invernas”, romance de Cristina Sánchez-Andrade que acaba de ser lançado no Brasil pela Editora Tordesilhas. Numa simbiose entre o poético e o narrativo, a autora circula em seu livro por temas como o mistério, a fantasia, o drama familiar, a hierarquização pela beleza e a relação entre individualidade e coletivismo, utilizando a tradição oral galega – das histórias contadas de uma geração para outra - e até mesmo de um certo tom cômico para nos entregar sua envolvente história. 

Para as irmãs Dolores e Saladina, em seu retorno à Terra Chã, nada parece ter mudado. Porém, debaixo da aparente normalidade, os moradores da pequena aldeia guardam seus próprios segredos. A volta das irmãs causa um alvoroço entre os habitantes locais, por razões que o leitor vai desvendando página a página, a cada personagem que lhes é apresentado, conforme as protagonistas vão se reintegrando à comunidade e trazendo à tona histórias que todos ali querem esquecer. 

Mais que um conto com cunho histórico ou um retrato de um estilo de vida que não se encontra mais, “As invernas” trata da individualidade das suas personagens principais, seus sonhos e ambições – incluindo aqui a paixão compartilhada pelo cinema hollywoodiano – enquanto mostra a busca das irmãs para se reintegrarem à comunidade em que voltaram a viver, tornando-se parte do rebanho de ovelhas, mesmo tendo se tornado distintas dos demais. 

“— Talvez não seja tão ruim ser ovelha, como disse o padre.
E a outra, tentando abrir uma gaveta:
— Como assim?
— As ovelhas camuflam umas às outras. ”

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