A história do Brasil na era colonial foi marcada a ferro e sangue.
Sangue de homens e mulheres trazidos para essa terra estranha, de costumes e crenças alheios aos seus, povoada por seres rudes e mãos prontas para causar dor. Uma terra onde ser livre não era uma opção, nem mesmo na morte. E em meio tantas histórias fortes, foi com a mistura de crenças africanas e ritos religiosos que diversas lendas nasceram. No entanto, com os passar das décadas, muito das cores originais e do terror nelas contidas foram amenizados.
E é para resgatar esse terror original que O Escravo de Capela foi escrito. Aqui nossas lendas não parecem fábulas para crianças. Aqui elas são muito mais próximas do real.
O romance se passa no ano de 1792, auge da era colonial brasileira, quando a produção de açúcar nas fazendas de cana era controlada pelas mãos impiedosas dos senhores de engenho. Os homens acorrentados que não derramassem seu suor no canavial encontravam na dor de um lombo dilacerado o estímulo para o trabalho braçal. Não eram poucos os negros que recebiam no pelourinho a resposta truculenta para sua rebeldia. Pior ainda àqueles que, no desejo por liberdade, acabavam mutilados pelo gume de um terçado. No retorno de um morto que a terra deveria ter abraçado surge o pior dos pesadelos. E como se não bastasse o terror que assombra a casa-grande ao cair da noite, um conflito que parecia enterrado é reaceso, podendo destrancar um segredo capaz de levar todos à ruína.
O Escravo de Capela poderia muito bem ser um romance histórico, pois o drama principal são as relações entre os membros da família Cunha Vasconcelos e as consequências pelo longos anos de tratamento cruel dado aos escravos. Mas o autor é conhecido por entregar uma visão aterradora dos males reais que afetam o ser humano, trazendo terror às suas tramas como representação do pior que existe dentro de nós.
Esqueça as histórias de brincadeiras e estripulias de um moleque travesso. O assobio na floresta não é o aviso de traquinagem, mas o presságio de que o terror se aproxima. O caminhar errante, desiquilibrado e mutilado, é paciente. Porque a vingança vai chegar para todos de Capela.
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