quinta-feira, 28 de abril de 2016

O Oceano no Fim do Caminho

de Neil Gaiman (Editora Intrínseca)

Um homem de meia idade volta para casa para um funeral. E após muitos anos ele se recorda de fatos sobrenaturais que vivenciou na infância e estranhamente esqueceu. Este é o início de O Oceano no Fim do Caminho, de Neil Gaiman (Editora Intrínseca, 208 páginas). No livro, em flashback, ficamos sabendo a história deste menino, cujo nome não é dito, de apenas sete anos de idade. 

Tudo começou quando seus pais o mudaram de seu quarto para alugar o cômodo para um minerador de opala. O homem estranho atropelou seu gato. Alguns dias depois roubou o carro da família e cometeu suicídio na estrada que dava na casa das Hempstock, trio de mulheres que vivia na antiga residência. 


Deste evento, o menino de Sussex que era como qualquer criança e reclamava de coisas normais do cotidiano, da comida, das brigas com sua irmã, é exposto a um tipo de mundo que não conhecia. Um mundo sombrio e violento, com seres ancestrais obscuros e perigosos. Um deles, sob a forma de uma bela mulher se candidata para ser sua babá. Angela Monkton é uma destas criaturas vis, e fará de tudo para destruir o complicado balanço familiar da casa.  

Como na maioria das histórias de Gaiman, o mal se apresenta de muitas formas. É o medo absurdo que sentimos do desconhecido, dos cantos escuros, de tudo que não conhecemos. Assim como o medo das pessoas, das possibilidades a que cada um está sujeito. Também tem a presença do maligno, uma maldade tão grande que chega quase a ser incompreensível. E lidando com todas estas ameaças que o menino precisa triunfar. 


Assim como em Coraline, Gaiman consegue mostrar uma criança inocente vivendo momentos de terror, e lidando com essas ameaças da melhor forma que consegue. Na narrativa, o menino é o único de casa que sabe que sua família está em perigo, e fará o que puder para salvá-los. Ele contará com a ajuda das três mulheres estranhas que moram no fim de sua rua, onde ele viu seu primeiro oceano. Não é fácil contar o que acontece, é preciso ler para compreender. 

Sua melhor companhia é de Lettie, uma menina que aparenta ser apenas alguns anos mais velha que ele, mas que tem uma sabedoria de pessoa idosa. Ela, como sua mãe e sua avó são as únicas moradores da casa no fim da rua. Os homens de sua família partiram há muitos e muitos anos para nunca mais voltar. Muitos mistérios envolvem a existência delas, e as três são uma das melhores partes do livro.


Não nego que sou fã do trabalho do autor, e mais uma vez ele consegue surpreender. O Oceano no Fim do Caminho é um livro que não entrega todas as suas verdades, dá espaço ao leitor para interpretar, e isso te ficar pensando na história mesmo depois que o livro já acabou. 

É impossível não pensar nas implicações de um trauma desta magnitude,  ou refletir sobre as experiências que vivenciamos quando somos pequenos e que ficam borradas na memória com o passar dos anos, não permitindo que a gente saiba com certeza o que aconteceu.

De novo, Neil Gaiman traz elementos tão primoridiais aos seres humanos, misturados com elementos fantásticos e cria um livro impossível de largar. Leitores de qualquer idade vão gostar desta narrativa, e para quem já é fã do autor, é uma leitura obrigatória.  

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