Em 26 de abril de 1986, uma explosão seguida de incêndio na usina nuclear de Tchernóbil, na Ucrânia, provocou uma catástrofe sem precedentes em toda a era nuclear: uma quantidade imensa de partículas radioativas foi lançada na atmosfera da URSS e em boa parte da Europa. Em poucos dias, a cidade de Prípiat, fundada em 1970, teve que ser evacuada. Pessoas, animais e plantas, expostos à radiação liberada pelo vazamento da usina, padeceram imediatamente ou nas semanas seguintes.
A morte chegava em poucos dias. É por meio das múltiplas vozes - de viúvas, trabalhadores afetados, cientistas ainda debilitados pela experiência, soldados, gente do povo - que Svetlana Aleksiévitch constrói esse livro arrebatador, a um só tempo, relato e testemunho de uma tragédia quase indizível. Cenas terríveis, acontecimentos dramáticos, episódios patéticos, tudo na história de Tchernóbil aparece com a força das melhores reportagens jornalísticas e a potência dos maiores romances literários. Eis uma obra-prima do nosso tempo.
“Eu já não tenho medo da morte... Da minha própria morte... Mas não está claro como vou morrer... Um amigo morreu... Ficou grande, inchou... Como um tonel... E um vizinho... Também esteve lá, como operador de guindaste. Ficou negro como carvão, e secou até o tamanho de uma criança. Não está claro como vou morrer... Se eu pudesse escolher a minha morte, seria uma morte comum. Não como as de Tchernóbil. A única coisa que sei é que com o meu diagnóstico não se dura muito. Se sentir que chega o momento, meto uma bala na cabeça. Estive no Afeganistão... Ali a coisa era mais fácil... Com uma bala...”
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