Não é fácil encontrar estudos que indiquem o horário do ápice da produtividade diária de todas as pessoas do mundo - afinal, somos seres únicos e não máquinas programáveis. No livro Os Segredos dos Grandes Artistas, o escritor Mason Currey, pesquisou a rotina de grandes artistas – incluindo escritores consagrados.
Para produzir a obra, pelo período de um ano, Currey criou um ritual diário no qual acordava às 5h30 da manhã, escovava os dentes, tomava uma xícara de café e escrevia sobre como as mentes mais brilhantes dos últimos séculos trabalhavam. Ele pesquisou a vida de diversos artistas e o resultado foi, praticamente, uma espécie de 'manual' de produtividade para escritores. Só que não deve ser seguido ao pé da letra, claro, pois como sabemos, cada pessoa funciona de uma maneira muito particular.
O livro de Currey mostra, por exemplo, que Marcel Proust acordava todos os dias entre 15h e 18h, fumava ópio para aliviar sua asma, tomava café, comia croissant e passava a madrugada escrevendo. Franz Kafka também era outra alma noturna. Ele só começava a escrever às 22h30, em sessões que às vezes chegavam às 6h da manhã. De manhã, ele trabalhava numa seguradora, então, para manter sua rotina, dormia durante à tarde. Já Gustave Flaubert, embora acordasse todos os dias às 10h, só conseguia começar a escrever às 22h, pois o barulho do dia o distraía facilmente. Pela manhã ele preferia ter longas conversas com sua mãe.
Os três escritores são uma prova real de que a ciência nem sempre acerta em tudo ou, ao menos, não acerta com todos. Cientificamente falando, o período noturno é o momento menos propício para produzir, pois é quando o cérebro libera um hormônio chamado melatonina, que prepara o organismo para a noite, nos induzindo ao sono.
Entre estas privilegiadas mentes literárias, os 'criativos matutinos' estão em maior número. Neste time há nomes como Stephen King (entre 8h e 8h30), Haruki Murakami (4h30), Ernest Hemingway ('logo nas primeiras luzes do dia'), Maya Angelou (por volta das 7h), Alice Munro (por volta das 8h), entre outros tantos.
As tardes, embora não sejam preferência de muitos, foram as escolhidas de outros nomes ilustres. O irlandês James Joyce é um deles. Ele acordava às 11h e começava sua escrita depois do almoço. Suas noites eram reservadas para frequentar restaurantes e cafés. O clássico Ulysses foi escrito ao longo de sete anos, após 20 mil horas de trabalho.
Como vimos até aqui, o melhor horário para produzir é diferente para cada pessoa. No entanto, se você planeja escrever um livro, precisa descobrir em qual momento do dia ou da noite você se sente mais bem disposto para uma atividade que requer atenção aos detalhes, foco, reflexão, pesquisa e paciência. Uma vez feito isso, é importante saber outro detalhe fundamental que faz parte do processo de escrita de cada um dos nomes citados neste texto: todos possuem uma rotina.
William James, filósofo e pioneiro da psicologia, foi quem melhor articulou o mecanismo pelo qual uma rotina rígida poderia ajudar a liberar a imaginação. Segundo ele, somente ao tornar automáticos e habituais muitos aspectos da vida cotidiana, poderíamos "libertar nossas mentes para avançar para campos realmente interessantes de ação".
Portanto, depois de finalmente entender seu melhor momento do dia para escrever, crie um ritual diário para instigar sua imaginação. Fica a dica: funciona, e funcionou, com os melhores escritores do mundo.
*Eduardo Villela é book advisor e, por meio de assessoria personalizada, ajuda pessoas a escrever e publicar suas obras. Mais informações em www.eduvillela.com
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