quarta-feira, 6 de abril de 2011

Uma Pequena História sobre Blogs Literários

Acendam uma vela por Jacqueline Howett, autora autopublicada e autodestruída em público, numa das histórias mais pungentes – e, para bom entendedor, didáticas – que a selva cheia de novos perigos da internet já propiciou nos domínios da literatura.
Os personagens principais do caso são praticamente anônimos. Ou eram anônimos até poucos dias atrás, quando começou a guerra internética que se espalhou feito um vírus de gripe suína pela blogosfera literária de língua inglesa. Jacqueline Howett, nascida em Londres e radicada nos EUA, autopublicou no Kindle um romance chamado The Greek seaman. BigAl, blogueiro de literatura, fez uma resenha do livro em que lamenta os inúmeros erros sintáticos e ortográficos que atravancam a leitura, cotando-o em duas estrelas.
Até aí, tudo normal. O problema é que a autora começou a bater boca com o crítico na caixa de comentários. Qualquer pessoa que já tenha acompanhado um desses acalorados “debates” online – e haverá alguém que não, a esta altura do furdunço virtual? – sabe como eles, por alguma razão que parece ter a ver com a própria atmosfera do meio, tendem a degenerar rapidamente num espetáculo muito, muito feio.
Quem estiver interessado nas minúcias do vale-tudo pode ler aqui, em inglês, o post de BigAl e os 307 comentários que gerou (antes que o thread fosse fechado, segunda-feira). Para resumir, outros leitores entraram previsivelmente na conversa, boa parte sob aquele véu de anonimato que deixa todo mundo mais corajoso e menos educado do que seria na vida real, e Jacqueline Howett, que já não parecia um modelo de equilíbrio, surtou. A partir de certo ponto, passou a martelar uma única resposta impublicável, ainda que, para sua danação, publicada:
#**}%#!!!
Aí a coisa virou um circo romano, com a infeliz autora no papel de cristã rodeada de leões gargalhantes. Seu maior erro foi não entender nada da dinâmica de um meio, como foi dito acima, perigoso. “Parabéns por destruir publicamente sua reputação e manchá-la para o resto da vida”, escreveu um Anônimo com evidente prazer. Pouco antes do fechamento da caixa de comentários, ocorreu a um comentarista recuar três passos e dizer algo embaraçoso para todos os envolvidos:
“Não entendo como entrar num blogue para se deliciar com ou rir de alguém que está tendo um colapso emocional público possa ser visto como um comportamento melhor do que ter um colapso emocional público. Os seres humanos não prestam.”
Moral da história para escritores presentes e futuros: quando sentir o impulso de responder a uma resenha negativa – e você vai sentir, pode apostar um milhão nisso – acorrente-se ao pé da mesa e atire bem longe a chave do cadeado. 

Menos pessoal, não é assim que se faz.

Via: Veja

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