Acendam uma vela por Jacqueline Howett, autora autopublicada e
autodestruída em público, numa das histórias mais pungentes – e, para
bom entendedor, didáticas – que a selva cheia de novos perigos da
internet já propiciou nos domínios da literatura.
Os personagens principais do caso são praticamente anônimos. Ou eram
anônimos até poucos dias atrás, quando começou a guerra internética que
se espalhou feito um vírus de gripe suína pela blogosfera literária de
língua inglesa. Jacqueline Howett, nascida em Londres e radicada nos
EUA, autopublicou no Kindle um romance chamado The Greek seaman.
BigAl, blogueiro de literatura, fez uma resenha do livro em que lamenta
os inúmeros erros sintáticos e ortográficos que atravancam a leitura,
cotando-o em duas estrelas.
Até aí, tudo normal. O problema é que a autora começou a bater boca
com o crítico na caixa de comentários. Qualquer pessoa que já tenha
acompanhado um desses acalorados “debates” online – e haverá alguém que
não, a esta altura do furdunço virtual? – sabe como eles, por alguma
razão que parece ter a ver com a própria atmosfera do meio, tendem a
degenerar rapidamente num espetáculo muito, muito feio.
Quem estiver interessado nas minúcias do vale-tudo pode ler aqui, em inglês, o post de BigAl e os 307 comentários que gerou (antes que o thread
fosse fechado, segunda-feira). Para resumir, outros leitores entraram
previsivelmente na conversa, boa parte sob aquele véu de anonimato que
deixa todo mundo mais corajoso e menos educado do que seria na vida
real, e Jacqueline Howett, que já não parecia um modelo de equilíbrio,
surtou. A partir de certo ponto, passou a martelar uma única resposta
impublicável, ainda que, para sua danação, publicada:
#**}%#!!!
Aí a coisa virou um circo romano, com a infeliz autora no papel de
cristã rodeada de leões gargalhantes. Seu maior erro foi não entender
nada da dinâmica de um meio, como foi dito acima, perigoso. “Parabéns
por destruir publicamente sua reputação e manchá-la para o resto da
vida”, escreveu um Anônimo com evidente prazer. Pouco antes do
fechamento da caixa de comentários, ocorreu a um comentarista recuar
três passos e dizer algo embaraçoso para todos os envolvidos:
“Não entendo como entrar num blogue para se deliciar com ou rir de
alguém que está tendo um colapso emocional público possa ser visto como
um comportamento melhor do que ter um colapso emocional público. Os
seres humanos não prestam.”
Moral da história para escritores presentes e futuros: quando sentir o impulso de responder a uma resenha negativa – e você vai sentir, pode apostar um milhão nisso – acorrente-se ao pé da mesa e atire bem longe a chave do cadeado.
Menos pessoal, não é assim que se faz.
Via: Veja
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