Fazendo questão de dizer que está “colocando a pontinha dos pés nos mares do cenário literário paraense”, Nazaré Imbiriba Mitschein estreia com o livro “A Cobra e Outras Vidas”, assinando como Chuca.
Para quem a conhece como professora com vasto currículo ligado às questões internacionais vale este esclarecimento. A internacionalista se insere no mercado literário, assinando com o apelido carinhoso, adotado, desde a mais tenra idade, pelos amigos, Chuca. Outra persona, quem sabe?!
Neste primeiro livro, estão dois longos contos – ou seriam novelas? - seguidos de mais seis curtas histórias, crônicas - ou prosa poética? O livro chega após muitos anos em que Chuca escreve sem trazer nada a público. São textos hilários, trágicos e sobre amores.
“Não são textos biográficos, mas trazem coisas que vi e presenciei em minha vida andarilha de relações com o mundo”, comenta a autora, que na vida profissional já publicou artigos e livros mais técnicos.
O primeiro conto-novela “A verdadeira história da cobra que quase matou o Presidente ou uma história de vingança amorosa” é inspirado em uma notícia de jornal sobre a visita de um presidente ao nordeste, que resultou na morte de uma cobra. O texto se debruça sobre um fato que beirou ao ridículo, envolvendo ecologistas e a opinião pública sobre ter sido aquilo um ato de salvamento ou um crime ambiental.
Os personagens Elpídio e Joana Deusa aparecem, pela primeira vez, como dois apaixonados, e voltam em ‘O Silêncio de Elpídio’, uma história completamente distinta, em que reaparecem como mãe e filho. “São nomes que evocam meus ancestrais paraibanos”, diz a autora.
A terceira e última parte do livro, intitulada “Outras Vidas Relidas”, reúne os contos menores, que trazem as vivências da autora, misturadas ao imaginário e observações de vidas outras: “Cartinha de Medo a Óbidos”, “Os Cheiros do Mundo Índia”, “Ela não vai voltar nunca”, “Tempos Perdidos”, “Porque Mexer na Alma” e “Os Egípcios Venceram”.
A ilustração na capa é uma aquarela de Miguel de Lalor, filho mais velho de Chuca, que vive em Paris. Há também ilustrações de obras de Dina Oliveira, Zoca, Luciano Oliveira e Neuza Titan... tudo família! O projeto gráfico e diagramação é de José Fernandes (Zoca). A obra sai pelo Programa Trópico Úmido-IEMCI, da UFPA, com Patrocínio Cultural da Construtora Paraense de Estruturas Metálicas - COPEM e apoio da Academia Artística e Literária de Óbidos, da qual Chuca é membro.
Obra sensível com personagens bem construídos
Antes de se lançar como escritora, neste momento da vida em ela quer mais é se dedicar á literatura, Chuca teve o cuidado de submeter seus textos à crítica literária e os enviou à escritora carioca Lúcia Facco.
“Ela seria uma pessoa imparcial, pois não nos conhecíamos, ele não tinha nenhuma referência sobre mim. Era o que eu queria, uma análise sem firulas. E a surpresa foi grande quando tive o retorno de Lúcia, que também escreveu uma pequena crítica na quarta capa do livro”, comenta Chuca.
“... Chuca entra no mercado literário com o pé direito, ‘A cobra e outras vidas’ apresenta ao leitor textos densos, carregados de sensibilidade e poesia. Histórias com personagens maduros, consistentes, que nos deixam emocionados, encafifados, pensando e repensando sobre diversos aspectos da vida. Lembranças, culpas, cheiros, paisagens, dores se misturam em textos plenos de construções criativas e estruturas sofisticadas. É um livro para ser saboreado, degustado aos bocadinhos para que tenhamos oportunidade de perceber suas nuances. Espero sinceramente que seja o primeiro de muitos”, disse Facco.
A apresentação do livro é de Rosa Assis, que estudou com Chuca no Colégio Estadual Paes de Carvalho, situado até hoje na Praça da Bandeira. “Os traços harmoniosos, ritmados, lírico-melódicos se mesclam com passagens sensuais, com traços eróticos, tudo bem sedutor, e, assim, visualizamos em várias passagens um quadro como que à mão pintado, e dele ainda ressoa uma voz de acalanto”, ressalta Rosa Assis, Doutora em Literatura.
O prefácio traz um relato emocionado, escrito por Amarílis Tupiassu. “... O volume fascina porque se cobre de originalidade, de textualização própria, neologismos, encantaria, a palavra a dar mostra da Chuca irrequieta, dona de sons que não temem a proferição, investidos de decidida mostra de liberdade na concepção e realização literária. Certo é que a autora vem a público, destituída de qualquer restrição...”, diz a professora e amiga.
O posfácio é da Doutora em Desenvolvimento Sustentável, Marilena Loureiro da Silva. “Apoiar a primeira obra literária pública de Chuca, que transita entre o conto, a crônica ou qualquer outro nome que esses relatos de alma deixem expostos, é contribuir, de forma consciente, com o fortalecimento do cenário artístico-cultural amazônico e paraense, ele mesmo tão especial e único, em suas formas, linguajares e visões de mundo”, escreve Marilena.