sábado, 20 de janeiro de 2018

A religião deve ocupar o espaço público?


Travam-se hoje em dia candentes debates acerca do papel das religiões na esfera pública, e não é difícil entender a razão disso. Primeiro, as religiões — o budismo, o judaísmo, o cristianismo, o islamismo etc. — vêm crescendo numericamente, e seus adeptos no mundo inteiro estão cada vez menos dispostos a limitar suas convicções e práticas à esfera privada da família ou da comunidade religiosa. Em vez disso, querem que essas convicções e práticas moldem a vida pública.

Eles podem envolver-se com políticas eleitorais, buscando influenciar processos legislativos (como a Direita Religiosa tem feito nos Estados Unidos desde os mandatos de Reagan), ou podem concentrar seus esforços na transformação do tecido moral da sociedade por meio de reavivamentos religiosos (como a Direita Religiosa pareceu estar fazendo durante os mandatos de Obama). De um modo ou de outro, muitos cidadãos religiosos objetivam moldar a vida pública de acordo com sua visão pessoal do que é uma vida boa.

Segundo, no mundo globalizado de hoje, não é possível isolar as religiões em áreas geográficas definidas. À medida que o mundo diminui de tamanho e a interdependência dos povos aumenta, apaixonados defensores de diferentes religiões passam a ocupar o mesmo espaço. Mas como convivem essas pessoas, especialmente quando todas elas querem moldar a esfera pública de acordo com os ditames de suas tradições e textos sagrados?

Quando se trata do papel público das religiões, o principal temor é o da imposição, isto é, uma fé impondo aspectos de seu próprio estilo de vida a outras fés. Pessoas religiosas temem a imposição: os muçulmanos temem os cristãos, os cristãos temem os muçulmanos, os judeus temem ambos, os muçulmanos temem os judeus, os hindus temem os muçulmanos, os cristãos temem os hindus, e assim por diante. Os secularistas,
aqueles que não adotam nenhuma fé religiosa tradicional, também temem a imposição — a imposição de qualquer fé —, uma vez que tendem a considerá-las todas irracionais e perigosas.

O medo da imposição de visões religiosas muitas vezes evoca a necessidade urgente da supressão de vozes religiosas da esfera pública. Quem adota essa visão argumenta que a política, uma das maiores esferas públicas, deve “permanecer sem a iluminação da luz da revelação” e orientar-se tão somente pela razão humana, como disse recentemente Mark Lilla.1 Esse é o conceito de um estado laico, forjado no Ocidente
durante os últimos séculos.

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