Publicado em 1956, Grande sertão: veredas, de João Guimarães Rosa, revolucionou a literatura brasileira e segue despertando o interesse de renovadas gerações de leitores em uma história de amor, sofrimento, violência e alegria. A edição de Grande sertão: veredas da Companhia das Letras será lançada no dia 25 de fevereiro.
A capa é assinada por Alceu Chiesorin Nunes e inspirada no bordado do avesso do Manto da apresentação, do artista Arthur Bispo do Rosário, com a reprodução de nomes dos personagens.
Leia o depoimento de Alceu sobre a criação da capa:
Grande sertão: veredas, um projeto mais que especial. Após uma visita ao IEB/USP, onde está parte do acervo de João Guimarães Rosa, surge um encantamento pelo seu material de pesquisa. Seus cadernos de campo com desenhos e anotações, seu profundo conhecimento da fauna e flora regional registrados em datiloscritos com correções e observações de um olhar atento — tudo é muito impressionante. Que pesquisa inspiradora! Agora é hora de mergulhar na região onde se passa a saga, apegar-se àquele jeito mineiro, àquela mata de cerrado, ao som dos animais, à cultura local, às artesãs. O bordado não saía da cabeça, ora pela simplicidade rústica, ora pelo ofício comum ao sertão.
Depois da imersão, vem a produção de ideias. Surgiram várias propostas, algumas explorando a flora e a fauna com ilustrações científicas e desenhos livres, outras com fotografias autorais — e os bordados, que, a princípio, eram figurativos: veredas, bois, jagunços.
Acontece que ser literal nem sempre é o melhor caminho, e tudo era muito óbvio para uma obra tão especial. Por uma dica de Lilia Schwarcz, chegamos ao Bispo do Rosário e sua obra pungente, de impacto semelhante à força do livro. Estudando o Bispo, me detive no verso do Manto da apresentação; para personalizar, a ideia foi substituir os nomes por personagens do Grande sertão, e assim foi. Com a autorização do Museu Bispo do Rosário, iniciamos nosso bordado.
Primeiro fiz um desenho de base, inspirado no traço do manto. Depois, essa base foi encaminhada à Elisa Braga — nossa querida companheira de muito anos de Companhia, que agora se dedica a trabalhos manuais.
O resultado foi encantador. Os leitores terão em mãos um objeto muito precioso, feito com total dedicação de todas as partes envolvidas.
0 comentários:
Postar um comentário