A sensibilidade e a curiosidade de Mário de Andrade pelo povo brasileiro estão evidentes em suas obras que ressaltam a identidade brasileira e suas diversas nuances em qualquer gênero. Na adaptação para quadrinhos “O Peru de Natal e outros contos de Mário de Andrade” quatro contos desse grande escritor modernista foram selecionados e abordam temas como relacionamentos, sonhos, ética e ciúme.
Entre a seleção proposta pela Editora do Brasil está "O Peru de Natal" e "Vestida de preto", ambos extraídos de “Contos novos”; "Será o Benedito!", publicado em um jornal da época; e "Caim, Caim e o resto" que foi extraído do livro “Os contos de Belazarte”.
No enredo do conto que dá nome ao título, conhecemos a história de Juca, personagem com os traços do autor, que está cansado de cultivar o luto pela morte de seu pai e resolve cometer um desatino no Natal, que assusta os familiares e principalmente a mãe, acostumada a se contentar com as migalhas do peru na ceia “Vestida de preto” traz as lembranças fortes do primeiro amor de Juca pela prima Maria.
Já em “Será o Benedito!”, o narrador traz as ironias da vida e do viver na visita à Fazenda Larga e no encontro com Benedito, um menino curioso e cheio de sonhos . E, para finalizar, “Caim, Caim e o resto”, apresenta a vida dos irmãos Aldo e Tino retratando o dia a dia na periferia de uma cidade grande nos anos de 1920, e as semelhanças com os dias atuais.
Francisco Vilachã, responsável por adaptar os contos em quadrinhos, comenta que havia lido apenas “O Peru de Natal” antes de fazer todas as releituras. “Devo confessar que na época não me causou grande impressão. Relendo hoje, achei simplesmente genial, assim como os demais ilustrados para essa edição”, declarou.
Vilachã detalha seu processo de criação. Primeiro começa lendo o conto e escolhe o que é mais relevante para adaptação. “Normalmente a parte descritiva é eliminada de cara. Nos diálogos e legendas procuro ser o mais fiel possível ao texto original. Depois de decupada as cenas em closes, plano geral e médio, trabalho a arte final com caneta e digitalizo os originais em alta definição”, descreve. As cores são todas aplicadas de forma digital.
O livro segue a proposta dessa coleção e traz ainda excertos e pequenos textos dos mais variados gêneros produzidos pelo autor, brindando os leitores com um apanhado sucinto da obra de Mário de Andrade, um ícone da literatura nacional, apontado como um dos maiores autores brasileiros de todos os tempos.
Quatro histórias de Machado de Assis, recebem releitura de Francisco Vilachã
Machado de Assis é praticamente uma unanimidade e sua obra possui um vasto alcance. No Brasil, mesmo quem não a leu na íntegra, já teve contato com parte desse trabalho. Muito da identidade brasileira é retratada no livroMissa do galo e outros contos de Machado de Assis. Assuntos como relacionamento, ética e sentimentos são postos em pauta.
De acordo com Francisco Vilachã, responsável por adaptar os contos "Missa do galo", "Conto de escola", "O espelho" e "Umas férias" para histórias em quadrinhos, as narrativas históricasdenunciam mazelas da sociedade brasileira.
“A forma como esses males se estabelecem no habitual das relações interpessoais não se dá de maneira explícita. E o que acontece em “Missa do Galo”, conto em que pouca coisa ocorre objetivamente, mas, nas entrelinhas, tudo pode estar subjetivamente se realizando”, explica. Nesta narrativa sobre a vida de um homem quando jovem está um tocante retrato da hipocrisia do cotidiano da Corte da época (1899).
Já na adaptação do “Conto de Escola” (1896), por exemplo, Vilachã ressalta a questão ética, quando Pilar, o herói, pela primeira vez toma conhecimento da corrupção e da delação. Em “O Espelho” (1882), há uma reflexão filosófica sobre as aparências e o ser; e, em “Umas férias” (1906), uma experiência definitiva na vida de duas crianças transforma seus modos de ver a realidade.
Publicada pela Editora do Brasil, esta edição representa muito bem a maravilha das histórias machadianas, que são intercaladas por trechos de outros gêneros textuais do autor. O livro é um mergulho no universo de Machado e um convite para que o jovem leitor conheça um pouco mais o trabalho desse escritor brasileiro tão importante.
Para cada conto, Vilachã realizou pesquisa de cenário e figurino da época. “Procuro ser o mais fiel possível ao texto original, mantendo certa licença poética, é claro. Busco, em cada HQ, usar um grafismo que traduza a versatilidade do autor”, explica.
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