* Steventon, Inglaterra, 1775 –
† Winchester, Inglaterra, 1817
Filha de um pastor anglicano, pertencente à aristocracia rural
inglesa, encontrou, na experiência de viver em um presbitério, material
suficiente para a criação de narrativas. Em sua obra, trata o cotidiano
de pessoas comuns, contribuindo para dar ao romance inglês o primeiro
impulso para a modernidade. Sua aguda percepção psicológica revela-se
na ironia do estilo, dissimulado pela leveza da narrativa. Com temas de
aparente trivialidade, criou romances de amor, construindo um mundo
denso. Neles a ação, o senso cômico e a técnica do ofício oferecem um
quadro de crítica social contrário à falsidade, à vulgaridade e à
presunção. Sua obra mais conhecida, Orgulho e preconceito, mostra a
superação das barreiras de diferença social, colocando em evidência o
escasso poder de decisão concedido à mulher.
OBRAS PRINCIPAIS: Razão e sensibilidade, 1811; Orgulho e preconceito, 1813; Emma, 1816; A abadia de Northanger, 1817; Persuasão, 1818 (e Mansfield Park, né!)
JANE AUSTEN por Elizamari R. Becker
A permanência de Jane Austen junto ao público leitor pode ser explicada, em primeiro lugar, pela natureza de seu confronto com os romancistas de sua época, mostrando-se ela bastante sensível ao gosto literário em voga ao escrever A abadia de Northanger, no qual satiriza o romance gótico. Em segundo lugar, pelo caráter de modernidade conferido ao conjunto de sua obra, como resultado da escolha de temas que circulam em torno de pequenos núcleos de pessoas aparentemente comuns, em cenários também limitados, e que focalizam pequenos incidentes da vida cotidiana.
De natureza recatada, Jane Austen viveu uma vida pacata e sem grandes acontecimentos, o que lhe rendeu estudos biográficos que a apontam como contemplativa, devido à ambientação quase claustrofóbica de seus romances. Em razão disso, sua arte tem sido designada miniaturista. Suas personagens são provincianas de classe média, cuja maior preocupação parece girar em torno do casamento – casamento por amor, segurança financeira, status social –, tema que ela explora com uma ironia sutil e um humor refinado. Sua apurada visão acerca dos relacionamentos humanos, retratando com vivacidade a vida da classe média britânica do século XVIII, trouxe para sua obra de ficção uma sensível mudança na caracterização das personagens femininas. Suas heroínas são, apesar de sua condição social pouco confortável, fortes a ponto de não se sujeitarem ao que a sociedade delas espera, quando não travam uma luta íntima intensa contra os próprios sentimentos, como as heroínas em Emma e Orgulho e preconceito. Também não são belas, ou pelo menos não possuem a beleza frágil e enternecedora que a maioria das heroínas românticas normalmente exibem. Assim o são Elizabeth Bennet, de Orgulho e preconceito, cuja beleza é descrita como tolerável, e Catherine Morland, de A abadia de Northanger, descrita como “uma magricela de aparência desajeitada, pálida, de cabelos escuros escorridos e feições marcadas”.
Sandra M. Gilbert e Sandra Gubar, em seu The Madwoman in the Attic, logram aproximá-la a outras escritoras de sua época – tais como Charlotte e Emily Brontë, Mary Shelley, Emily Dickinson e outras – no maior desconforto de que compartilham: a angústia da autoria. Toda uma tradição literária que só concebia textos oriundos de uma autoria masculina e patriarcal forçou-a ao anonimato, mas não a impediu de criticar os danos causados às mulheres inseridas em uma cultura criada por homens e para homens. Esse poder econômico, social e político masculino vê-se representado em sua obra nas muitas dramatizações de como importa à sobrevivência da mulher saber angariar a aprovação e a proteção dos homens, bem como buscar aqueles que sejam mais sensíveis, embora permaneçam como representantes de toda a autoridade. Dessa forma, Austen soube representar como nenhuma outra escritora de sua época tanto o papel de subordinação da mulher na sociedade patriarcal, quanto suas restritas – ainda que existentes – ações no sentido de melhorar sua condição no cenário familiar e social.
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2 comentários:
Olá!
UAU! Adorei a matéria sobre a Jane. Não é minha autora favorita, mas é uma delas. Acho incrível o impulso que ela deu à literatura inglesa e a sua coragem de enfrentar os preconceitos da época.
Abraços!
Ana Carolina Nonato
Seis Milênios
Que bom que gostou Ana ;)
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